Especial Radio Cultura

Textos de abertura e finalização do Especial da Radio Cultura sobre Consuelo de Paula:
A Voz Popular, um programa de Luís Antônio Giron.



Em um mundo cada vez mais virtual, midiático e fetichista, o trabalho da mineira Consuelo de Paula se destacou na passagem do século 20 para o século 21, por contrariar tudo o que a aldeia global da época valorizava. Onde queriam eletrônica e acoplagens de gêneros e registros cada vez mais violentas, ela veio com a pureza das fontes tradicionais; onde exigiam o “ripe” das celebridades, ela se despiu de qualquer enfeite ou retórica; e onde queriam agressividade, ela jogou flores no tambor. No lugar da matéria, a intuição e o espírito. Este programa faz um retrato e conta a trajetória de um talento maior da canção popular, da canção regional que se apresenta como universal.

Para Consuelo de Paula a canção foi uma busca lenta e longa que se iniciou na infância como ouvinte e prosseguiu com o estudo do canto e da interpretação e se realizou plenamente e se perfez na composição. Foi uma busca de aperfeiçoamento, busca que a elevou a condição de cantora de referência de um sonho de pureza da nossa música. Consuelo canta com a autoridade de quem filtra e purifica a música. O resultado é um som sem contaminação, algo como o nascedouro da tradição e da modernidade, tudo ao mesmo tempo. Quando ela canta parece colher as melodias de um prado, sem esforço, de uma maneira natural. A pureza, é claro, é um mito, já dizia o Helio Oiticica. A Consuelo de Paula não é uma cantora pura, não tem a voz pura, mas eu diria purificada. Mas, é claro que não é nada disso porque o trabalho de Consuelo é o trabalho de uma artífice da canção, é o resultado de uma elaboração profunda.

Luís Antônio Giron.