São Paulo, 28 de março de 2004.

Suavemente; poesia.


Celina Lucas para o GRUPO DANÇAPÉ.

Escassas propostas artísticas compreendem a linguagem dos entremeios.Tudo que a poesia quer é a liberdade do sussurro enigmático: suavizar para depois florir sem percalços. Poder moldar-se sob esfinges de rosa, falar-nos miúdo aos véus da contemplação. Raros artistas possuem o silêncio interior, os vazios disponíveis para expressão das sutilezas, dos desafios de crochê a pontos examinados. Então, a surpresa no tropeço dos detalhes, distinções e auto-referências presentes na marca estilística de Consuelo de Paula. Talvez proveniente do olhar o tempo na moda mineira ou providenciar à arte o espaço de que carece para lavar sem porteiras. Difícil explicação. O fato é que a suavidade paradoxal do ritmo e invenção da poesia em trotes sistemáticos de som em poças de imagens multi-corais existe, disposta abundantemente no trabalho da artista. Maquinação reafirmada no tricô a flores, muito bem construído do seu mais recente disco, "Dança das rosas", criação que demanda tempo para que possamos desfrutar dos emaranhados de possibilidades e afundamentos que nos oferece, cordialmente, como compota de doce às vistas molecas.

Difícil é saber se alcançamos o núcleo do esmero, do capricho, a fragrância primeira da flor que nos planta a alma: letras belas, arranjos irretocáveis, pausas oportunas, textos comunicantes, encarte caprichado, músicos necessários e a voz de pássaro encantando-nos para o jardim: psiu, linguagem dos entremeios; suavidade da obra em adereços de poesia e flor.



Celina Lucas é mestre em ciências da comunicação, sua tese de mestrado foi sobre a produção de CDs independentes e escreveu o livro Círculos em Reversos sobre a trilogia de Consuelo de Paula.