Correio Paulista, 22 de outubro de 2004.

"Consuelo de Paula consagra os signos femininos
nas canções atemporais da MPB".


De - Eduardo Dias

A verdadeira canção traz, em sua essência e pulsação, um pouco mais do que letras, melodias, ritmos e vocalizes, trás a marca do imaginário do intérprete, do cantor, daquele jeito de se apresentar, marcando singularidades daquele artista para sempre. E esse recorte, leitor, é atemporal, longínquo, inesquecível, como o de um chuva caindo no chão de terra e exalando a memória do tempo, do vento, o cheiro de Deus...

Consuelo de Paula pertence a esse universo de artistas singulares, que imprimem nas suas obras um pouco mais do lado artesanal, imprime a própria essência, o acreditar nessa vocação ligada e iluminada pelos deuses da poesia, não só os deuses mitológicos, mas os deuses do palco, aqueles que iluminam e inspiram o artista nessa interação com o público, nessa viagem sagrada entre poesia, sonoridade e platéia.



Consuelo de Paulo mostra ecletismo
no CD "Samba Seresta & Baião"


A trajetória de Consuelo de Paula pontua experimentações e pesquisas, mas não evidenciando só o lado técnico e, metódico das pesquisas, o lirismo aparece sempre, seja na voz da intérprete, seja no jeito de entoar cada palavra. O universo musical da cantora/compositora agrega projetos como "samba Seresta & Baião", na qual a intérprete revisita a imagética "Anabela", de Mário Gil/Paulo César Pinheiro. E aqui, como é bom ver Anabela chegando no caís. O projeto resgata também as belíssimas "Lenço Branco", de Ataufo Alves e "Lua Branca", de Chiquinha Gonzaga e revela suas pesquisas interpretando canções como "Cantos dos Congadeiros de Pratápolis", "Riacho de Areia" e "Folia" e Fitas", inserindo suas leituras sobre o tema , sempre de forma diferenciada, mostrando para o público a outra direção que a nova MPB pode ter, não de ruído, não da poluição sonora, mas de sonoridades, de resgates e de respeito com a sensibilidade do público.


O segundo capítulo revela a intérprete
unindo com poesia "Tambor & Flor"


A musicalidade de Consuelo de Paula vai se mostrando em diversos projetos e um deles é "Tambor & Flor" de forma artesanal. E com essa mostragem, canções como "Dança do Milharal", "Moro na Roça", "Pedaço de Deus", "Maria Del Carmem", "De Flor em Flor " ( retornando a parceria com a poesia de Mário Gil - o mesmo de "Anabela") e "Cinco Estrelas" pontuam uma identidade não fragmentada, inteira, que se liga nas origens, respeitando o seu lado cosmopolita, mas também o lado bucólico da infância, dos vilarejos, da vida longe da cidade grande. A autenticidade da cantora revela essa signagem do universo feminino, com suas pulsações, renascimentos e novos aprendizados. E aqui, diria Beto Guedes " A Lição sabemos de cor, só nos resta aprender". É assim com Consuelo de Paula, aos poucos vamos decodificando seus códigos, signos e símbolos do seu eterno imaginário feminino.

A Dança das Rosas mostra o intimismo
de Consuelo de Paula


Se no projeto "Tambor & Flor", a intérprete/compositora começa a mostrar esse eterno signo feminino. É no recente "Dança das Rosas" que a artista nos convida para um passeio pela introspecção, nostalgia, saudades. Ouvir o recente CD "A Dança das Rosas" é pausa para refletir sobre a própria trajetória. E, nesse sentido, é tempo de paz, de balanço de vida, de pactos com os vários tempos. Canções como "Dança Para um Poema" ( um verdadeiro elogio a mãe natureza, a geradora de tudo), "Canto de Guerra" , "Estrada de Água" , "Sete Trovas", "Artesanato", "Pássaro Encantado", "Rosa e Amarela" ( talvez a canção que mais remeta como o ato de viver é simples), "Flor Futura", "Retina" e "Curativo" traduzem o subtexto de Consuelo de Paula, que a vida renasce sempre, com sua simplicidade, com seus elos de afetos e renascimento.. Certamente, os ecos dessa intérprete ainda vão chamar a atenção de toda crítica especializada. E isso não é profecia, nem presságio, é constatação, apenas isso. Fique atento, leitor, uma idéia a favor da verdadeira arte vai mostrando sua verdadeira faceta, alterando rumos e mostrando novos capítulos da eterna discussão sobre nova MPB e seus intérpretes. É isso aí, Valeu !!!!