Jornal
Hoje em Dia - Belo Horizonte, MG, Brasil
Sábado 20/11/2004
Jeito mineiro de ser
Jáder
Rezende
REPÓRTER
A cantora e compositora mineira Consuelo de Paula
cresceu cercada de ritmos de nossa cultura, principalmente congada,
em Pratápolis, no sul de Minas, sua terra natal. Na adolescência,
passou a se aprofundar no folclore mineiro, com ênfase em congada
e Folia de Reis. Depois de passar uma temporada em Ouro Preto, participando
do Coral da UFOP e se apresentando no Teatro Municipal, ela decidiu
se mudar para São Paulo, para consolidar a carreira.
Antes
de profissionalizar-se como cantora e compositora, Consuelo teve história
sempre cercada pela vivência em várias manifestações
culturais: “Fui rainha da congada, bailarina de fanfarra, onde toquei
também vários instrumentos; fui passista de carnaval,
mestra de bateria de bloco carnavalesco, repiniqueira, inventora de
peças teatrais, leitora de textos nas missas, oradora, cantora
de serenatas e de igreja, compositora na adolescência e, principalmente,
admiradora de músicas brasileiras".
Em 1999, ela lançou “Samba, Seresta e Baião" (Dabliú
Discos), abrindo a trilogia que passou por “Tambor e Flor" (2002),
encerrada neste ano com o lançamento de “Dança das Rosas",
sendo os dois últimos independentes. São três discos
sublimes, que primam pelo repertório extremamente equilibrado,
com canções de bom gosto. “Dança das Rosas",
como define a cantora, é marcado pelo equilíbrio entre
os dois trabalhos anteriores e mantém constante diálogo
com ambos.
Esta artista de muito talento, mas ainda pouco conhecida pelo grande
público, agora ensaia vôos mais altos e longos, e entre
seus projetos está o retorno a Minas Gerais, na caravana do reeditado
Projeto Pixinguinha. Quem ainda não a ouviu, não sabe
o que está perdendo. E quem conhece, não esquecerá
jamais.
Como você define a trilogia encerrada com “Dança das
Rosas"?
Uma trilogia que nasceu através da minha paixão pela música
brasileira. Guiada por uma estética que é o resultado
do que sou: uma mineira do interior que estudou em Ouro Preto e que
vive na cidade de São Paulo. Esta trilogia é um grande
ciclo dividido em terços e subdividido em outros terços.
A admiradora, a intérprete e a compositora. Três obras
produzidas e encaminhadas com necessária solidão. A tentativa
de deixar a canção ser a estrela das obras, afinal é
a canção o essencial, o motivo. Minha fase amarela. Meu
samba, seresta e baião. Meus tambores, flores e valsas. Minha
dança, rosas e rio.
O que pensa do resultado final do trabalho?
Todas as rosas são autorais. É o resultado da minha parceria
com Rubens Nogueira (músico e parceiro da artista em todas as
faixas de “Dança das Rosas"). Fechamos o ciclo como um círculo
que se volta para os outros CDs. O amarelo, enfim, toma conta da capa
do CD e cobre, com minhas próprias palavras, o chão e
o som. As flautas e o clarinete chegam para conviver com os violões
e a percussão. E como sempre, pude contar com músicos
esplêndidos - os músicos brasileiros são o máximo!
Lancei este CD no Theatro Municipal de São Paulo, foi um presente
que a vida me deu.
Os discos anteriores foram decisivos para que você optasse,
no fechamento da trilogia, por apresentar um trabalho totalmente autoral?
Sim, foram. Acho que sempre me senti uma compositora, quero dizer na
maneira com a qual fiz os CDs, mas não sabia que estes fossem
me estimular tanto a compor. É incrível, mas o curso do
rio nos leva.
Que compositores mais influenciaram seu trabalho?
Os que gravei nos meus CDs anteriores (Alceu Valença, Ataulfo
Alves, Paulo César Pinheiro), além de Chico Buarque, Paulinho
Pedra Azul, Milton Nascimento, Fátima Guedes, Dona Ivone Lara,
a cultura popular...
Você é mineira, radicada São Paulo, coisa e tal.
Por que não faz apresentações em Belo Horizonte?
Há previsão de vir a BH, com ou sem banda?
Fiz um projeto que foi aprovado pela Lei Rouanet e estou à procura
de patrocinadores. São shows em diversas cidades mineiras, começando
por Belo Horizonte. Quero muito cantar em Minas. Farei parte das caravanas
do Projeto Pixinguinha, e tomara que passe por Minas!
Que lembranças de Minas marcaram sua vida?
Nas minhas composições, estas lembranças estão
muito presentes. O vento batendo no milharal, as águas dos rios,
as fitas amarelas das festas populares, a flor da margarida. Carrego
um jeito mineiro, o gosto pela montanha. Acho que trago certa suavidade
na maneira que encontrei para cantar. Serenatas, pedras. Ah, e a comida
maravilhosa! E tudo o que vem do milho.
Você chegou a compor com alguém de Minas ou a integrar
algum grupo mineiro?
O Mário Gil, que é de Juiz de Fora, supermineiro (risos),
é meu grande parceiro na produção do “Tambor e
Flor" e do “Dança das Rosas". Gravei duas canções
dele e ele me acompanhou em alguns shows.
Qual o seu próximo projeto?
Como é o final de um grande ciclo, quero esperar um pouco para
recomeçar o próximo CD. Mas o trabalho já aponta
para uma conversa com a América. Estive agora fazendo um show
em Buenos Aires, no Teatro Gran Rex, e foi maravilhoso. Farei alguns
shows em São Paulo até o final deste ano, e espero levar
o show para outros Estados no próximo ano. Continuo compondo
com o Rubens Nogueira e outros parceiros. O projeto do qual falei, e
que prevê uma série de shows em Minas, propõe também
um DVD. Tomara que dê certo!
Que canção da trilogia que se encerra define esta boa
fase?
Tem uma canção no “Dança das Rosas" que fiz
de parceria com Rubens Nogueira e Etel Frota, e que diz: “a canção
é meu pecado/ minha dor e redenção/ meu brinquedo,
meu reisado/ o meu bocado de pão /a canção é
meu estado/ minha sina, distração/ meu folguedo, meu congado/
meu cajado, profissão..."
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