Gazeta do Povo - Paraná/PR - Segunda-feira 26 de janeiro de 2004 .




ECONOMIA

DE OLHO NO LEãO
Brisas na savana


E como não sou de ferro e ainda por cima movido a música, eis que me vejo em São Paulo na última quinta-feira, atraído por discreto item da vasta e variada programação artístico-cultural comemorativa dos 450 anos da metrópole brasileira.

Em meio aos incontáveis eventos, o Sesc Pompéia, em parceria com o Banco da Amazônia, fez sua parte. Brindou seleta platéia com a apresentação do fabuloso violonista Sebastião Tapajós, incessantemente aplaudido durante e após o show. Além de tocar consagradas composições de sua autoria, com destaque para as músicas da trilha sonora do filme "Lendas Amazônicas", de Ronaldo Passarinho Filho e Moisés Magalhães, Tapajós deixou o público literalmente hipnotizado ao dedilhar alguns sucessos de Garoto, aclamado músico paulista falecido em pleno vigor de sua perene criação.

O espetáculo, prestigiado pela diretora do Teatro Municipal de São Paulo e ex-secretária da Cultura do Paraná, Lúcia Camargo, teve o palco dividido com a cantora Consuelo de Paula, conhecida do público de Curitiba, onde já se apresentou no Teatro Paiol. Sua voz, de tão cristalina, doce e suave, lembra pingos de orvalho afagando a flor em néctar numa alvorada de primavera. No saboroso repertório da filha de Patrápolis, Minas Gerais, brejeiras cantigas da alma brasileira são resgatadas com estilo invulgar, doçura e tocante delicadeza. Num piscar, o ouvinte vê-se flagrado nas asas de um canário amarelo, viajando para os recônditos das raízes:

"Lá no céu tem cinco estrelas
Todas cinco encarriadas
Duas minhas, duas tuas
Uma é da madrugada".

Sobre o segundo CD de Consuelo ("Tambor & Flor"), escreveu Mauro Dias no " O Estado de S.Paulo": É uma artista de sucesso e referência. O lançamento de "tambor & flor", um grande acontecimento, reafirma a integridade artística da grande intérprete e dá mais um passo em direção à excelência".

Louve-se o Banco da Amazônia, na pessoa de seu gerente em São Paulo, Paulo Mouzinho, pela preocupação em manter acesa a chama da nossa brasilidade; louve-se o Sesc Pompéia pela feliz programação.

E que me desculpe o leitor por ter a coluna hoje viajado por outras savanas, repletas de brisas, piaçocas no alagado, carimbó, tapuias e congadeiros



José Alexandre Saraiva, advogado e jornalista