Jornal do Commercio - Recife - 30.08.2000 Quarta-feira

O Brasil no som de Consuelo de Paula

Há um ditado popular que diz que mineiro come quieto. Consuelo de Paula de Pratápolis, Minas Gerais, é assim. Há dois anos ela lançou seu primeiro CD e, alguns meses depois a revista Sucesso, especializada no mercado fonográfico brasileiro, divulgou sua lista de mais vendidos. Na cidade do Recife, Consuelo atingia então a 18º posição, acima do rock de Charlie Brown Junior e, imaginem só, do cantor sertanejo Daniel.

Hoje, a cantora chega ao Recife para apresentar o show daquele mesmo CD, cujo nome já diz (quase) tudo: Samba, Seresta e Baião, ritmos que, segundo a cantora, são “os três grandes elementos que fazem o universo da MPB”. Consuelo de Paula se apresenta nesta quarta no Teatro Valdemar de Oliveira, às 20h30.

No show, quase o mesmo repertório do disco, relançado este ano por um novo selo e nova distribuidora. Faixas assinadas por compositores da música popular e algumas versões para músicas já conhecidas dos pernambucanos, como Azulão, de Jayme Ovalie e Manoel Bandeira e Na pancada do ganzá, de Antonio Carlos Nóbrega e Wilson Freire. Mas para entender a proposta musical da cantora é preciso saber exatamente que tipo de mineira ela é.

Mais próxima das raízes (interior) que dos caules (edifícios) de Minas, ela foi criada escutando as chamadas congadas, manifestação popular trazida pelos escravos bantos à região na época da extração do ouro. Ambientada neste universo acentuadamente percussivo, Consuelo mistura seu timbre branco e apurado de cantar com o instrumental negro do samba, do chorinho e do baião. Do lado de lá do Brasil, bem que sua música poderia ser classificada na categoria world music, por representar tão bem a identidade de uma região. “O contato que eu tenho com o Brasil é através da música e o disco Samba, Seresta e Baião ronda exatamente a barreira do que é o som popular brasileiro”.

Na lista percussiva, instrumentos que poucas pessoas utilizam: caixinha de fósforo, djembê, agôgô, caixa de folia, gungas, xequerê, prato, caxixi, unhas de Ilhama (!) e caixa de congo. A maior parte desses instrumentos deve estar neste show de hoje. Consuelo de Paula passa ainda pelas raízes da música popular brasileira, com Lua branca de Chiquinha Gonzaga e Riacho de areia, um canto dos canoeiros do Vale do Jequitinhonha e mais algumas composições recentes da própria Consuelo.

O próximo trabalho desta mineira ainda não está previsto para entrar em estúdio.