E.Ritmo

A canção na frente

Cantora costura com maestria a herança musical brasileira

"Tive que me desarmar e deixar a canção em primeiro plano", explica Consuelo de Paula. Talvez esse seja o segredo da dinâmica suave e sensível de Samba, Seresta & Baião, primeiro disco da cantora. 

Ataulfo Alves, Alceu Valença, Antônio Nóbrega, Chiquinha Gonzaga e outras figuras díspares da música popular surgem encadeadas dentro de um conceito estético e histórico. Consuelo consegue costurar harmonias folclóricas e modernas a partir de três grandes universos: o do samba, o da seresta e, é claro, do baião.

Parece complicado... Mas o mistério se desfaz em delícia logo na primeira audição. Natural de Pratápolis, sudoeste de Minas Gerais, Consuelo evoca sua cidade natal para, numa enxurrada emotiva (não piegas), reencontrar a Congada, a Folia de Reis, o Tambor de Moçambique e uma porção de festas populares.

Ao longo das 11 faixas, Consuelo apresenta nossa herança cultural e musical de uma forma clara, sem sobressaltos ou grandes rupturas. Uma toada moderna como "Anabela", de Mário Gil e Paulo César Pinheiro, pode dialogar com "Lua Branca", de Chiquinha Gonzaga; Azulão, de Jayme Oralle e Manoel Bandeira, se casar com "Folia", de Lourenço Baeta e Xico Chaves, e assim por diante - numa seqüência de encontros tão felizes quanto providenciais.

O disco foi lançado, de forma independente, há dois anos. O boca-a-boca e o trabalho de formiguinha da própria cantora foram recompensados. O CD recebeu muitas críticas positivas e o reconhecimento do público (ao menos de quem vive antenado no que acontece fora dos grandes círculos). Percebendo o potencial do material, a gravadora Dabliú decidiu relançar o álbum.

Um trabalho de relevância cultural e sofisticação artística que não perde o cheiro de terra, o chão e o sabor popular. Imperdível!

Gilberto Amendola Jr.